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Fotografia alternativa não é só fazer um daguerreótipo ou uma impressão usando goma. A palavra “alternativa” carrega o micróbio da curiosidade para saber se alguma coisa, fora do padrão estabelecido, pode funcionar.
Quando fiz a postagem “Testando… 1… 2… 3… “ disse que se a “fórmula secreta” funcionasse iria aparecer aqui. Então, lá vai.
Da Goma dicromatada, peguei o dicromato , mas substituí a goma por cola PVA misturada com água. Do papel salgado peguei o nitrato de prata e o fixador, mas o fixador foi diluído em água. Ou seja, tudo para não dar certo. Porém…
Quando imaginei juntar o nitrato de prata com o dicromato de amônia para obter cromato ou dicromato (?) de prata, perguntei a um químico como seria a equação dessa mistura e ele me disse que não seria nada pois os dois compostos não reagiriam um com o outro, e me deu toda a explicação do porquê. Explicação entendida e pronto não vai funcionar. Mas como nos primeiros testes alguma imagem se formou, então…
Após vários ajustes a fómula final é a seguinte:
Cola PVA: meia colher de sopa diluída em 40ml de água
Nitrato de prata: 15 ml a 10%
Dicromato de amônia: 2 ml (foi usado o dicromato comercial para serigrafia)
Uma vez misturados os componentes acima formam uma solução não muito homogênea com muita coisa em suspensão que deve ser agitada antes de ser aplicada sobre o papel.
Os tempos de exposição são relativamente longos, mesmo com índices extremos de UV.
A fixação foi feita em um banho de água mais fixador (50%:50%). Isso foi feito por conta de que nos primeiros testes, a forma tradicional de “revelação” do processo de goma não surtiu qualquer efeito sobre a cola PVA. Com a adição do fixador no banho foi notado que ao mesmo tempo que se fixava a imagem a mancha do dicromato simplesmente sumia sem deixar qualquer vestígio no líquido. Depois de cinco minutos nessa solução fixadora, outro banho de 10 minutos em água.
Outros dados: Exposição feita a céu aberto, sem nuvens. Índice UV: extremo. Negativo de papel encerado. Papel de suporte: Verge 180g ( manuseado com grande cuidado depois de encharcado.)
Apesar de ter consegui do uma imagem bem formada e estável, resta uma pergunta para a qual não tenho qualquer resposta, ainda: Se o nitrato e o dicromato não reagem entre si, o que acontece para que se consiga essas imagens? Alguma reação com o PVA? UV?. Quem conseguir uma explicação, por favor me avise.
Depois do digital e para valorizar o trabalho e diferenciá-lo, as cópias feitas em papel fotográfico tradicional começaram a receber a denominação de “Impressão em Gelatina de Prata”, quando na verdade são somente as tradicionais cópias, feitas da mesma maneira há mais de um século. É claro que a emulsão fotossensível pode ser feita de forma artesanal, todo o trabalho de revelação e viragem pode ser realizado de maneira a criar um trabalho único e bem distinto das cópias que eram feitas em tantos laboratórios profissionais e amadores, porém no fim de tudo, a tal da gelatina de prata é aquela mesma emulsão dos papeis da finada Kodak ou Ilford, Foma, Kentemere, etc., etc..
Então, sabendo que é possível preparar a emulsão fotossensível com sais de prata na cozinha de casa, por que não tentar fazer a mesma coisa para a química da cianotipia?
O primeiro passo foi identificar qual das fórmulas para solução única melhor se adaptaria ao experiência: Solução única de C.B.Talbot ou Solução única de Fisch (BROWN, G. Ferric and Heliographic Processes, páginas 60 e 61). Depois de alguns testes, optei pela fórmula de Fisch por ser acidulada e proporcionar uma gradação tonal maior. Abaixo segue a fórmula final com as modificações que fiz, destacadas
Gelatina incolor 12g
Água 100ml
Dissolva completamente a gelatina em água morna
Citrato Férrico Amoniacal (verde) 30g
Dissolva completamente o citrato
Adicione 2 gotas de Ácido Acético glacial
Amônia 30ml
Agite algumas vezes
Ferricianeto de Potássio 15g
Adicione 2ml de dicromato de amônia a 5%
Complete com água até 200ml
Guarde na geladeira em um pote envolto em plástico preto. Para usar é só pegar a quantidade que desejar derreter em banho-maria. A gelatina de ferro usada para as impressões deste post foi feita há 6 semanas.
Uma vez derretida a gelatina, sua aplicação é feita da mesma maneira que a da solução líquida.
Exposição normal a céu aberto, sem nuvens e com índice UV alto/extremo. Apesar do UV bem alto o uso de negativos de papel encerado determinou um tempo relativamente prolongado sob o sol. Cada exposição demorou 6 minutos.
Com o uso de gelatina na solução “revelação” pode se tornar um problema por conta do descolamento de algumas partes da imagem. Isso é contornado com um banho inicial de 5 minutos em um litro de água e 20g de alumem – hidróxido de potássio-alumínio, para endurecer a gelatina. Para quem não conhece, é a tradicional pedra ume usada para ajudar a estancar sangramentos no rosto por conta de barbeiros barbeiros com a navalha.
Vale a pena ainda mencionar que pelo fato se haver a adição de ácido acético, esse primeiro banho também servirá para que seja feita uma revelação ácida da imagem que ajuda a se obter uma gradação tonal maior.
O segundo banho é o normal da cianotipia tradicional.
Outra observação feita é que pelo fato da solução formar uma camada sobre o papel e não se entranhar entre as fibras as altas luzes passam a apresentar uma tonalidade azulada e as áreas de sombra podem perder um pouco do detalhamento. Isso, caso se queira, pode ser contornado com um banho alcalino forte ( 30g de carbonato se sódio em um litro de água). As imagens abaixo mostram o antes e o depois do banho alcalino. É bom lembrar que o controle nesse banho é puramente visual e deve ser seguido por, pelo menos, 10 minutos de lavagem em água corrente.
No final de semana recebi um email com o seguinte assunto: Fotos Alternativas, e um pedido para publicação no blog.
Depois das checagens de praxe, abri as imagens. Todas bem compostas e com iluminação correta. Sombrias, góticas, porém não alternativas. O que o autor das fotos chamou de alternativo na verdade não passava da aplicação de filtros e camadas de texturas feito com algum programa de edição de imagens.
Já disse isso uma vez, mas não custa repetir.
Fotografia alternativa tem a ver com o processo e não com o que está sendo fotografado.
Usar um processo histórico e já comercialmente abandonado, ( o filme está quase lá), é fotografia alternativa. Filtro de envelhecimento do PS, não é.
Usar um processo mais moderno como o polaroid transfer ou temperaprint é fotografia alternativa. Camadas aplicadas com PS para adicionar texturas diferentes ao rosto de um modelo, não é.
Este blog está sempre aberto para mostrar trabalhos de outras pessoas que se dediquem à pratica e preservação desses processos históricos, não ortodoxos, experimentais, ou qualquer outro adjetivo que se queira dar e que se convencionou de chamar Fotografia Alternativa.
E como postagem sem imagem não tem muita graça…