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Ao longo do ano passado fiz algumas postagens indicando que no final de 2020 lançaria mais um livro com o título: Calotipia. A Era dos Negativos de Papel. Tudo caminhava bem até que… não preciso dizer o que aconteceu. Isolamento social, comércio fechado, além do natural receio de ficar doente, acabaram por atrapalhar tudo o que havia sido planejado.

Assim, para não deixar que o assunto seja totalmente esquecido, farei algumas publicações de textos já prontos, porém ainda não revisados, do livro enquanto fico torcendo para que todos consigam passar sem maiores complicações por esse perrengue.

” TALBOT E A CALOTIPIA – CRIADOR E CRIATURA

William Henry Fox-Talbot nasceu em 11 de fevereiro de 1800, em Melbury Sampford, Inglaterra. Com a morte prematura de seu pai, William Davenport Talbot, quando tinha somente cinco meses de idade, Talbot torna-se herdeiro da Abadia de Lacock e dívidas em montante superior a £ 30.000.

Talbot. Retratado por John Moffat, em 1864.

Apesar de pertencer a duas famílias tradicionais, passa a infância e a juventude vivendo com parentes e em colégios internos, até que, em 1827, graças a diligente administração de sua mãe Lady Elizabeth, filha mais velha do segundo conde de Ilchester, juntamente com seu segundo marido, Charles Fielding, capitão da Marinha Real, todas as dívidas são liquidadas e Talbot, finalmente, pode tomar posse de Lacock, que será seu lar até o dia 17 de setembro de 1877, quando morre vitimado por um ataque cardíaco.

            Entre os anos de 1817 e 1821, estuda no Trinity College Cambridge, onde obtém o título de Bachelor of Arts, First Class. Em 1822 é eleito membro da recém-criada Royal Astronomical Society e, em 1825, recebe o título de Master of Arts.

            Em 1831, já com diversos trabalhos publicados nos campos da matemática, física e astronomia, Talbot atinge o ápice do reconhecimento acadêmico sendo eleito membro da Royal Society, uma das mais antigas e prestigiosas instituições acadêmicas de promoção do conhecimento científico, criada em 1660.

Dono de uma mente inquieta e curiosa, com sete livros publicados e mais de 50 artigos científicos e matemáticos, Talbot é um dos vários exemplos do rigor e vigor intelectual existentes na Inglaterra do século XIX. Seu nome está marcado em várias áreas da ciência: na matemática com a Curva de Talbot, na física existe a Lei de Talbot, duas espécies botânica foram classificadas com seu nome e, na Lua, existe a Cratera Talbot.

            Apesar de sempre ser lembrado como um dos criadores e pioneiro da fotografia, os interesses de Talbot iam muito além. Antes da fotografia foi matemático.  Depois da fotografia, foi arqueólogo, dedicando-se ao estudo e, finalmente tradução da escrita cuneiforme de Nínive, e apesar de sua intensa atividade intelectual, ainda foi membro do Parlamento entre os anos de 1832 e 1835 e ocupou o cargo de Xerife de Wiltshire.

O Desenho Fotogênico.

            O interesse de Talbot na obtenção de imagens se inicia com uma frustração. Em 1833, após seu casamento com Constance Mundy, o casal parte para uma viagem de recreio pela França, Suíça e Itália. Em sua passagem pela Itália ele tenta fazer alguns esboços do Lago de Como, com o auxílio de uma câmera lúcida. Diante do que, em sua opinião, era um resultado sofrível, começou a imaginar se poderia utilizar uma câmera escura e as propriedades fotossensíveis do nitrato de prata para obter imagens sobre o papel.

Um dos desenhos feitos por Talbot com o uso da câmera lucida.

Logo nas primeiras experiências, ele constata que os papéis sensibilizados somente com o nitrato de prata, ou combinado com cloreto de sódio, eram demasiadamente lentos para serem usados na câmera escura, porém funcionavam bem para a criação de fotogramas. Essas primeiras tentativas, mesmo não produzindo o que Talbot esperava, serviram para que várias observações fossem feitas, como o abandono do uso de papéis sensibilizados somente com nitrato de prata e a proporção ideal para a combinação do nitrato com o cloreto de sódio.

            Continuando sua pesquisa com os fotogramas, Talbot se depara com mais um obstáculo. A permanência das imagens é praticamente nula. A menos que ficassem guardadas em algum lugar escuro, uma vez exibidas, o cloreto de prata fotossensível, formado pela combinação do nitrato de prata com o cloreto e sódio, continuaria reagindo na presença da luz até escurecer completamente a imagem obtida.

            As tentativas de Talbot para conseguir a permanência das imagens partiram de um raciocínio bem simples. Tendo constatado anteriormente que como menos cloreto de sódio, a combinação com o nitrato de prata tornava a solução mais sensível à luz, então, uma vez feita a exposição, o papel poderia ser “dessensibilizado” se fosse submetido a um banho com uma solução saturada de cloreto de sódio. Isso não funcionou. Apesar de se notar um pequeno aumento da tolerância aos ambientes iluminados, ainda assim, o papel continuava a escurecer. Depois do cloreto de sódio, ele também experimentou usar brometo de potássio, melhorando um pouco mais a permanência da imagem, mas ainda não de forma definitiva. Isso somente foi possível graças à descoberta de seu amigo Sir John Herschel da ação do hipossulfito de sódio (hoje, tiossulfato de sódio) como agente redutor da prata.

            Talbot chamou esse processo de “Desenho Fotogênico”, e estava pronto para tornar pública sua invenção quando, em janeiro de 1839, chega de Paris, a notícia que Daguerre havia criado um processo fotográfico. Mesmo sem ter todos os detalhes do processo francês, mas temendo perder a primazia, Talbot junta todo seu material e o apresenta, detalhadamente, à Royal Society sob o título “Da Arte do Desenho Fotogênico”. Finalmente, quando em agosto de 1839, são publicados os detalhes do processo de Daguerre, fica constatado não existir qualquer ponto que pudesse indicar que o processo de Talbot tivesse precedência sobre o francês, na obtenção de imagens fotográficas.

A daguerreotipia, com seu registro nítido e detalhado e o uso de uma câmera escura é o processo que efetivamente inaugura a história da fotografia. Quanto ao desenho fotogênico, mesmo não servindo para se fazer um registro fotográfico original em uma câmera, passará a ser utilizado para a reprodução de cópias positivas e será a base para todos os papéis fotográficos que surgirão no futuro. Hoje, o Desenho Fotogênico é conhecido por qualquer praticante de fotografia alternativa como papel salgado.

A Calotipia.

            Não conformado em ser somente o inventor do desenho fotogênico, Talbot continuou suas pesquisas para obter uma imagem fotográfica, sobre papel, com a utilização de uma câmera obscura.

            Sempre assombrado pelas comparações que eram feitas entre o seu desenho fotogênico e a daguerreotipia testou várias formulações na tentativa de tornar os papéis mais sensíveis à luz.

            Em 20 de setembro de 1840, enquanto conduzia mais uma sessão de testes, ele fez uma descoberta fundamental, relatada na Literary Gazzete: “Eu estava testando pedaços de papel sensíveis, preparados de diferentes maneiras, na câmera obscura, fazendo que eles ficassem lá por muito pouco tempo para determinar qual seria o mais sensível. Um desses papéis foi retirado e examinado a luz de vela. Havia muito pouco ou quase nada para ser visto e o deixei sobre a mesa no quarto escuro. Retornando algum tempo depois fui surpreendido com uma imagem definida. Estava certo de que não havia nada quando o examinei antes, assim sendo, (salvo mágica), a única conclusão que pode ser tirada é que a imagem inesperadamente se revelou por uma ação espontânea.”.

            Neste momento a mente científica de Talbot entra em ação para associar uma curta exposição do papel sensibilizado com algum haleto de prata com a ação redutora do ácido gálico atuando como agente revelador da imagem latente.

            Até então, os processos fotográficos existentes (na verdade, os três processos únicos processos: a daguerreotipia, o desenho fotogênico e o quase esquecido positivo direto de Bayard), se valiam unicamente da ação do sol para formar uma imagem visível e a ideia de uma imagem latente revelado por alguma reação química não era cogitada.

            Talbot continuou sua pesquisa nesse caminho até que, em 1841, apresentou à Royal Society seu processo batizado de calotipia do grego kallos e typia, significando “bela imagem”.

            A calotipia, que também foi chamada de talbotipia, por motivos óbvios, não produzia uma imagem positiva. Seu produto final era uma imagem negativa do objeto fotografado, ou seja, as altas luzes se mostravam escuras a as áreas de sombra, claras. Para que a imagem fosse vista como realmente era ainda se fazia necessário copiá-la como positivo via desenho fotogênico (papel salgado). Essa etapa não destruía o negativo e assim a mesma imagem registrada inicialmente podia ser reproduzida tantas vezes quanto fosse desejado.

Apesar de não possuir as mesmas características de nitidez e detalhamento de um daguerreótipo é o processo criado por Talbot, com sua facilidade de operação (em comparação a daguerreotipia), que cria o primeiro movimento no sentido de popularizar a fotografia, que só não foi mais amplo em seu primeiro momento, pelo fato de, talvez, em razão do que foi vivido em sua infância e juventude, Talbot patenteou tanto a calotipia, quanto o desenho fotogênico, concedendo licenças para o uso de ambos os processos. Esse entrave legal perdurou até o início da década de 1850 quando, pressionado por sua mãe e pela Royal Society, renunciou aos seus direitos sobre o desenho fotogênico e, posteriormente, a calotipia.

            Podemos dizer, sem medo de erro, que a calotipia é a Grande Mãe da fotografia. De uma tacada inaugura as duas características básicas da fotografia tradicional: a imagem latente que faz, por conta da reação química, com que os tempos de exposição sejam derrubados de muitos minutos para alguns segundos e o princípio do negativo-positivo, que passa a permitir a reprodução ilimitada de uma mesma imagem.

            A importância da descoberta da imagem latente foi tão fundamental para fotografia que permite até uma analogia com as sequencias binárias de um arquivo digital. O mesmo princípio se aplica. Assim como a química revela a prata invisível sobre o papel, um programa também “revela” a imagem codificada em zeros e uns. ”       

Durante mais de dez anos Talbot manteve o direito de patente de seu processo fotográfico da calotipia, também chamado de talbotipia. Isso o levou a processar, sem muito sucesso, vários fotógrafos sob a alegação que as imagens produzidas por eles eram feitas de acordo com o seu processo original. (Na maioria das vezes eram mesmo, mas com pequenas alterações de procedimento, compostos e percentuais.)
A exigência de Tabot de certa maneira atrasou o a popularização de seu processo, porém contribuiu de forma decisiva para que fotógrafos franceses, como Le Gray, desenvolvessem, a partir do processo original, novos métodos para a execução de seus negativos.
Por pressão da Royal Society e de sua mãe, no início da década de 1850, Talbot abre mão de seu direito de patente sobre a calotipia. Um pouco tarde, talvez, pois o negativo de vidro feito com colódio úmido de Archer já estava começando a dominar o mercado.

A Patent Talbotype (Brooks) - Label B
Um dos modelos de carimbo aposto no verso de cada fotografia feita pelos licenciados por Talbot.

Agora ficou mais fácil conseguir o Manual de Cianotipia e Papel Salgado, a tradução, para o português, do Lápis da Natureza (The Pencil of Nature), de William Henry Fox-Talbot, bem como os demais títulos publicados pela Ibis Libris Editora. Basta ir até a Livraria da Travessa, em Lisboa, na Rua da Escola Politécnica nº 46, e fazer o pedido.

Procurando uma coisa se encontra outra.

Sobre a pré-venda de um livro
Em 30 de setembro de 2017 lancei, pela Ibis Libris Editora, meu Manual de Cianotipia e Papel Salgado com uma tiragem de 100 exemplares, um número redondo e sonoro. Porém, cabe perguntar como foi decida essa quantidade. Por que 100 e não 50 ou 200?
Essa resposta começou a ser dada um mês e pouco antes do lançamento quando se iniciou a pré-venda do livro.
Com a opção, criada pela impressão digital, de se imprimir pequenas quantidades ou por demanda, a pré-venda deixou de ser uma mera comodidade oferecida ao leitor para garantir seu exemplar para se tornar um termômetro, tanto para editoras quanto para autores.
Dependendo da quantidade de pedidos recebidos o autor, se não for primo de Narcíso, pode dirigir seu esforço pessoal na divulgação de sua obra em uma ou outra direção. Para a editora, aponta qual poderia ser uma quantidade razoável de exemplares que pode ser impressa sem medo de encalhe e eventual adoção de alguma ação complementar de divulgação.
Para os dois. Os resultados da pré-venda é economia. Os valores arrecadados já podem custear a impressão, ou parte dela, além de também já ser um início de remuneração (ainda que parca) por todo o trabalho envolvido na produção de um livro.
Mais um dado que serve a todos – Autores, editoras, gráficas e leitores. Com a pré-venda se economiza papel, se otimizam recursos, não se perde tempo, não se trabalha em vão.
Se meu livro serve como exemplo, seguem alguns números.
Durante o período de pré-venda, por conta da divulgação feita pela editora e por mim, via, sites, blogs, redes sociais e boca-a-boca, quase 60 exemplares já haviam sido vendidos antes do lançamento. Essa quantidade apontou para o 100. Já com pouco mais da metade com destino certo, os 40 e poucos exemplares restantes poderiam ser guardados, esperando novas vendas, sem ocupar muito espaço.
Uma pré-venda com divulgação bem dirigida, um cálculo realista da quantidade de exemplares e a possibilidade de fazer a impressão em pequenas tiragens, são aspectos que não podem ser desprezados por quem quer que embarque nessa aventura que é publicar um livro.
Para encerrar a história do Manual. Os 40 e poucos exemplares restantes foram vendidos ao longo dos três meses seguintes ao lançamento e uma nova tiragem foi feita em fevereiro de 2018 e está indo… indo… indo.
https://ibislibris.loja2.com.br/8770719-O-lapis-da-natureza

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