A camada magenta é a fase mais complicada na execução de uma cianotipia em três cores. Não por ser uma operação especialmente complicada e sim por conta da natureza dos pigmentos vegetais que nem sempre aderem o suficiente ao papel ou a cor se degrada muito rapidamente.
Nos dois testes anteriores usei uma tintura de beterraba enquanto a amiga e fotógrafa Silvia Neves, fazia a tintura, para a camada magenta, a partir de folhas secas de hibisco, da seguinte maneira:

60g de folhas secas e hibisco hidratadas com 6 colheres de sopa de água.
Quando as folhas estiverem úmidas e macias adicione 300 ml de álcool, macere e guarde na geladeira por, aproximadamente 15 dias.
Coe e filtre. Guarde na geladeira.


Ontem postei meu primeiro teste com com cianotipia em três cores e no fim do texto, disse que novos erros iriam acontecer. Pois bem, aqui estão:

Imagem para o amarelo: OK!
Banho alcalino: Melhor do que no primeiro teste.
Camada magenta: OK! Distribuição do pigmento mais uniforme.

E agora os três erros que estragaram o que até então estava correndo bem.

O primeiro: O novo pigmento magenta foi somente coado. Deveria ter sido também filtrado. Isso fez com que cristais não dissolvidos de alúmen se fixassem nas fibras do papel causando esses pontos escuros.

O segundo: A última exposição foi feita com o papel ainda não completamente seco. Isso pode ser percebido pelas estrias no plano de fundo. Nessas condições a solução para a cianotipia não reage da forma adequada.

O terceiro: Aconteceu falha no registro. Isso pode ser visto na curva bem claramente na curva superior do pescoço do cisne em primeiro.

Esses três erros podem ser resumidos em uma só condição: Falta de paciência. As soluções têm que ser filtradas, mesmo que isso demore mais que 4 horas. Se o papel tem que estar seco, ele tem que estar seco. Não adianta querer usá-lo enquanto houver alguma umidade entre as fibras. Se for para esperar 24 horas, que se espere.

A cianotipia, como o próprio nome diz, é azul. Quando muito, dependendo da viragem empregada, pode chegar até ao castanho escuro ou ao cinza azulado. Mas isso pode deixar ser a regra graças a pesquisa feita por Annette Golaz que está disponível no seu livro: Cyanotype toning: using botanicals to tone blueprints naturally,sobre o uso de pigmentos vegetais para a criação de novas cores e tonalidades sem, no entanto, alterar a tradicional combinação citrato + ferricianeto.

Imagem final com a pelagem já apresentando tons de castanho e cinza

         Aqui, a descrição da minha primeira tentativa com este processo, não seguirá fielmente a prática indicada no livro já que algumas adaptações precisaram ser feitas para a nossa realidade. Pelas imagens mostradas erros e imperfeições podem ser notados e não fiz qualquer esforço para disfarçá-los. Como em qualquer processo fotográfico de base química, o erro, sua análise e correção, fazem parte do aprendizado

         Inicialmente algumas providências devem ser tomadas antes que o processo de impressão propriamente dito, seja iniciado.

         A primeira diz respeito à estabilização dimensional do papel a ser utilizado. Como serão feitas duas impressões deve se garantir que o papel esteja dimensionalmente estável para que o registro dos dois negativos fique perfeito. Isso é obtido com a imersão do papel por, aproximadamente, 5 minutos em água morna seguida de secagem no ambiente. Não faz diferença se o papel for pendurado em um secador ou deixado sobre uma superfície plana.

         A segunda providência é a preparação de dois negativos pb com separação de canais. Um negativo do canal azul para o amarelo e outro do canal vermelho para o azul. O princípio aqui é o mesmo utilizado nas impressões RGB ou CMYK feitas com goma dicromatada onde cada canal corresponde à sua cor complementar.

         Finalmente a última providência diz respeito a preparação da tintura vegetal para a camada magenta. A indicação de Annette Golaz é a garança ou ruiva-dos-tintureiros, uma planta originária da região do Mediterrâneo, e um pouco difícil de ser encontrada no Brasil. Então o vegetal mais próximo que consegui pensar para a camada magenta foi a beterraba. Fatie uma beterraba média, e deixe de molho em álcool 70º por cinco horas. Acrescente 1g de alúmen para cada 100ml de álcool. O alúmen atuará com mordente, ajudando a fixar o corante no papel. O volume de álcool deve ser o suficiente para cobrir totalmente as fatias. Depois coe e guarde na geladeira. Hibisco também é uma possibilidade, mas isso é para um teste futuro 

         Agora, partimos para a impressão.

         Como são duas exposições é importante que se mantenha o registro perfeito dos negativos em relação ao papel de suporte. Uma maneira simples é montar os negativos e o papel como um “sanduíche” entre dois vidros, deixando uma borda livre e usar tachas para a manutenção da posição dos negativos. Quanto mais pontos de amarração menor será a chance de deslocamentos.

         A primeira exposição é feita com o negativo para o amarelo (canal azul) sobre o papel preparado com a solução normal para cianotipia. O tempo de exposição deverá ser o triplo do tempo normal. Essa superexposição é necessária para que na fase seguinte não se perca muito detalhamento da imagem. A “revelação” e lavagem são feitas normalmente em água corrente por cerca de 30 minutos. Finalize com um banho de 10 ml de H2O2 por litro de água, para acelerar a oxidação, e lave a impressão por mais cinco minutos e deixe secar completamente.

Primeira exposição para a cor amarela

         Uma vez seca a impressão deve ser colocada em um banho alcalino para a completa eliminação do azul. O banho pode ser preparado com 10g de carbonato de sódio por litro de água para uma reação mais lenta, ou então 1g de hidróxido de sódio por litro de água para uma reação mais rápida. Nos dois casos a bandeja deve ser agitada suavemente durante todo o tempo para evitar a formação de manchas irregulares causadas por algum cristal dos reagentes não completamente dissolvido. Essa fase se conclui quando todo o azul for substituído por uma tonalidade laranja amarelada. O controle é totalmente visual. Lave por 20 minutos e deixe secar.

Banho alcalino. Poderia ter ficado mais tempo para obter um amarelo/laranja mais intenso.

ATENÇÃO! HIDRÓXIDO DE SÓDIO É COMUMENTE CONHECIDO COMO SODA CÁUSTICA. É CORROSIVO. SE UTILIZAR, USE LUVAS DE PROTEÇÃO E PINÇAS.

O passo seguinte é a aplicação da tintura magenta. Uma vez seca a impressão faça, com uma trincha macia, uma primeira aplicação da tintura magenta. Espere cinco minutos e faça uma segunda aplicação e deixe secar longe da incidência direta de qualquer luz para evitar a degradação do pigmento. O princípio é o mesmo da antotipia onde os pigmentos de origem vegetal se degradam na presença da luz. Procure usar o papel dentro das 24 horas seguintes. Caso perceba que o pigmento perdeu a cor ou a intensidade, uma nova aplicação pode ser feita.

Tintura magenta. O erro aqui foi a concentração irregular do pigmento.

O último passo é uma nova exposição usando o negativo para o azul (canal vermelho) e a solução normal para cianotipia. O tempo de exposição também deve ser o tempo para uma cianotipia comum. Em seguida “revele” e lave por 30 minutos. Não é um processo complicado, só requer um pouco de atenção.

Na próxima postagem sobre cianotipia em três cores os erros apontados aqui já estarão corrigidos. (ABRINDO ESPAÇO PARA NOVOS ERROS!)

(Retornando, e ampliando o horizonte.)

Scanografia é o registro digital de imagens com a utilização de um scanner. A prática, que por suas características, fica restrita ao campo da fotografia experimental ainda é pouco conhecida no Brasil.

Sua execução é bem simples, bastando que objetos sejam colocados sobre o vidro do scanner. Porém isso é justamente o grande desafio para a obtenção de uma boa imagem. O scanner é projetado para capturar imagem em duas dimensões a partir de objetos  bidimensionais (a mínima espessura de uma folha de papel é irrelevante para considerarmos essa folha como sendo um objeto tridimensional).

Por conta da pouca profundidade de campo do scanner o registro perfeito da imagem de qualquer objeto somente acontecerá naquelas áreas onde existir contato entre o vidro do scanner e partes do objeto que se deseja scanear. Onde isso não ocorrer a imagem, de acordo com sua distância do sensor, irá perder definição, depois o foco e finalmente não haverá qualquer registro. É necessário que fique bem claro que quando se fala em pouca profundidade de campo não se está pensando em centímetros. Todo o trabalho deve ser pensado considerando poucos milímetros e, em muitos casos, suas frações.

Tendo isso em mente (e obviamente considerando que o scanner tem um limite de peso que pode ser aplicado ao vidro), qualquer objeto pode ser usado para a composição de imagens que serão transformadas em scanografias. De recortes de papel à bonecas de pano, passando por flores, conchas e garfos, o uso do scanner nos aproxima um pouco mais do “fazer uma fotografia”.

A scanografia tanto pode ser aplicada de forma direta a objetos quanto de forma indireta, quando utilizada em impressões fotográficas já prontas como forma de alterá-las, criando novas interpretações da foto original.

Scanografia direta.

Scanografia indireta com movimentação da impressão durante a passagem do sensor.

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