Resgatada do lixo em Juiz de Fora, encontrou seu caminho até a Livraria Antiquária Quarup e de lá, para minha coleção.
O que tem de especial? Nada e ao mesmo tempo, tudo.
É só o retrato de uma criança que, se conseguiu chegar a ser adulta, já deve estar morta.
Porém, deixando de lado a possibilidade de garimpo biográfico e genealógico ou de alguma inspiração súbita para uma aventura literária inspirada no olhar da criança, o que me interessa é todo o conjunto de tarefas fotográficas contido na imagem.
Começando pelo papel: Gramatura alta, quase um papelão. Entelado. Sugere não ser comercial e que com alguma certeza deve ter sido preparado e emulsionado pelo próprio fotógrafo.
O estado geral de conservação da imagem mostra que quem quer que tenha processado a cópia sabia o que estava fazendo. Não há qualquer indício de “bronzeamento” por conta de lavagens deficientes e restos de hipossulfito (tiossulfato). A emulsão não apresenta qualquer rachadura ou descolamento do papel.
Outro ponto que chama a atenção é diferença de qualidade da colorização e retoques entre o rosto da criança e sua roupa. No rosto quase não são notadas as intervenções feitas. São precisas e sem exageros e se fundem perfeitamente com a imagem. Na roupa, não mostram qualquer habilidade, são quase infantis.
Pelas características da fotografia, da moldura e dá própria estética da imagem ( cabelos, roupa, formal, fundo neutro, retrato de família “tirado no studio photographico”), não erro muito se disser que esse trabalho pode ser datado nos primeiros vinte anos do século passado.
E para os detetives de plantão, mais duas informações. No papel de proteção do verso da moldura um carimbo quase apagado do moldureiro. As únicas palavras legíveis: “Riachuelo” e “São Paulo”. No verso da fotografia, um nome ou assinatura e uma numeração. O número pode ser referência ao negativo, ou melhor, a chapa. O nome, talvez do cliente (?) ou assinatura (?) do fotógrafo.
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