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Em 1855, Thomas Sutton, publicou uma brochura com um título bem ao gosto dos pioneiros da fotografia do século XIX. “A NEW METHOD OF PRINTING POSITIVE PHOTOGRAPHS BY WHICH PERMANENT AND ARTISTIC RESULTS MAY BE UNIFORMLY OBTAINED.”, que traduzido é: “ UM NOVO MÉTODO PARA IMPRESSÃO DE FOTOGRAFIAS POSITIVAS PELO QUAL RESULTADOS PERMANENTES E ARTÍSTICOS PODEM SER UNIFORMEMENTE OBTIDOS.”

Pela época de sua publicação, poderia ser somente mais uma das inúmeras variações para impressões feitas em papel salgado se não fosse uma diferença fundamental. Ao contrário de todos os outros processos que dependem da formação de um haleto de prata qualquer, o processo proposto por Sutton dispensa o uso de qualquer tipo de sal, ou seja não são usados cloretos, iodetos ou brometos para a formação do haleto fotossensível.
O elemento orgânico usado no  papel é o soro de leite, sensibilizado com uma solução fraca de nitrato de prata e ácido acético glacial. A imagem que se forma, ao contrário dos outros “processos salgados”, não depende do ultra violeta e é parcialmente latente tendo que ser revelada com uma solução saturada de ácido gálico.
Também é interessante notar que Sutton, ao contrário de muitos outros, não deixou de aprimorar seu processo, no ano seguinte, apresentou algumas alterações ao mesmo no seu PHOTOGRAPHIC NOTES, publicado por ele mesmo.

NA PRÓXIMA POSTAGEM, O PROCESSO.

A história da fotografia tem processos que são verdadeiras vedetes, porém nem só de vedetes foi feita.
Pesquisadores, tanto os sérios quanto os loucos de todo o gênero, descobriram e testaram uma enorme quantidade de “processos geniais” que jamais alcançaram o mercado.

Um exemplo é o uso de glútem como substituto do albumem e do colódio.
Em 1853, na cidade de Florença, então capital do Grão-Ducado da Toscana (o processo de unificação da Itália ainda estava em curso), um farmacêutico de nome Luigi Brucalassi, publica um libreto intitulado “Applicazione del Glutine alla Fotografia“, descrevendo o seu processo fotográfico que usa o o glútem como veículo de suspensão para haletos de prata. O curioso é que ao falar sobre a fixação da imagem, ele descarta o uso do tiossulfato de sódio (hipossulfito, para os íntimos), alegando ser muito energético e indicando o uso de uma solução de iodeto ou brometo de potássio (???)
Testar?… Um dia… Talvez.

Depois de muito tempo trancado em uma gaveta, finalmente saiu. Manual de Cianotipia e Papel Salgado, em português. Pré-vendas, aqui.

Fotografia alternativa não é só fazer um daguerreótipo ou uma impressão usando goma. A palavra “alternativa” carrega o micróbio da curiosidade para saber se alguma coisa, fora do padrão estabelecido, pode funcionar.
Quando fiz a postagem “Testando… 1… 2… 3… “  disse que se a “fórmula secreta” funcionasse iria aparecer aqui. Então, lá vai.

Da Goma dicromatada, peguei o dicromato , mas substituí a goma por cola PVA misturada com água. Do papel salgado peguei o nitrato de prata e o fixador, mas o fixador foi diluído em água. Ou seja, tudo para não dar certo. Porém…

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Quando imaginei juntar o nitrato de prata com o dicromato de amônia para obter cromato ou dicromato (?) de prata, perguntei a um químico como seria a equação dessa mistura e ele me disse que não seria nada pois os dois compostos não reagiriam um com o outro, e me deu toda a explicação do porquê. Explicação entendida e pronto não vai funcionar. Mas como nos primeiros testes alguma imagem se formou, então…

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Após vários ajustes a fómula final é a seguinte:

Cola PVA: meia colher de sopa diluída em 40ml de água

Nitrato de prata: 15 ml a 10%

Dicromato de amônia: 2 ml  (foi usado o dicromato comercial para serigrafia)
Uma vez misturados os componentes acima formam uma solução não muito homogênea com muita coisa em suspensão que deve ser agitada antes de ser aplicada sobre o papel.

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Os tempos de exposição são relativamente longos, mesmo com índices extremos de UV.

Tempos de exposição: Da esquerda para a direita. 15, 20, 25 e 30 minutos

Tempos de exposição: Da esquerda para a direita. 15, 20, 25 e 30 minutos.

A fixação foi feita em um banho de água mais fixador (50%:50%). Isso foi feito por conta de que nos primeiros testes, a forma tradicional de “revelação” do processo de goma não surtiu qualquer efeito sobre a cola PVA. Com a adição do fixador no banho foi notado que ao mesmo tempo que se fixava a imagem a mancha do dicromato simplesmente sumia sem deixar qualquer vestígio no líquido. Depois de cinco minutos nessa solução fixadora, outro banho de 10 minutos em água.

Outros dados: Exposição feita a céu aberto, sem nuvens. Índice UV: extremo. Negativo de papel encerado. Papel de suporte: Verge 180g ( manuseado com grande cuidado depois de encharcado.)

Apesar de ter consegui do uma imagem bem formada e estável, resta uma pergunta para a qual não tenho qualquer resposta, ainda: Se o nitrato e o dicromato não reagem entre si, o que acontece para que se consiga essas imagens? Alguma reação com o PVA? UV?. Quem conseguir uma explicação, por favor me avise.

 

Resgatada do lixo em Juiz de Fora, encontrou seu caminho até a Livraria Antiquária Quarup e de lá, para minha coleção.

O que tem de especial? Nada e ao mesmo tempo, tudo.

É só o retrato de uma criança que, se conseguiu chegar a ser adulta, já deve estar morta.

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Porém, deixando de lado a possibilidade de garimpo biográfico e genealógico ou de alguma inspiração súbita para uma aventura literária inspirada no olhar da criança, o que me interessa é todo o conjunto de tarefas fotográficas contido na imagem.

Começando pelo papel: Gramatura alta, quase um papelão. Entelado. Sugere não ser comercial e que com alguma certeza deve ter sido preparado e emulsionado pelo próprio fotógrafo.
O estado geral de conservação da imagem mostra que quem quer que tenha processado a cópia sabia o que estava fazendo. Não há qualquer indício de “bronzeamento” por conta de lavagens deficientes e restos de hipossulfito (tiossulfato). A emulsão não apresenta qualquer rachadura ou descolamento do papel.

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Outro ponto que chama a atenção é diferença de qualidade da colorização e retoques entre o rosto da criança e sua roupa. No rosto quase não são notadas as intervenções feitas. São precisas e sem exageros e se fundem perfeitamente com a imagem. Na roupa, não mostram qualquer habilidade, são quase infantis.

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Pelas características da fotografia, da moldura e dá própria estética da imagem ( cabelos, roupa, formal, fundo neutro, retrato de família “tirado no studio photographico”), não erro muito se disser que esse trabalho pode ser datado nos primeiros vinte anos do século passado.

E para os detetives de plantão, mais duas informações. No papel de proteção do verso da moldura um carimbo quase apagado do moldureiro. As únicas palavras legíveis: “Riachuelo” e “São Paulo”. No verso da fotografia, um nome ou assinatura e uma numeração. O número pode ser referência ao negativo, ou melhor, a chapa. O nome, talvez do cliente (?) ou assinatura (?) do fotógrafo.

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